Em comparação com o ano passado, o registro de armas de fogo para atiradores, colecionadores e caçadores em 2020 apresentou aumento de 120%. A porcentagem indica mais do que o dobro de alta.
A modalidade de porte que está em crescente é a mesma que garantiu legalmente o poder aos pais da jovem que teria acidentalmente atirado em Isabele Ramos, que morreu com um tiro no rosto este ano em Cuiabá.
O registro no sistema da Polícia Federal, que trata da aquisição por cidadãos comuns, sem intenção de colecionar ou utilizar como esporte, também teve um número crescente. De 2017 para 2019, os documentos legalizados aumentaram 65.6%.
Mais de 2 milhões de registros estão ativos atualmente
Dois sistemas guardam os dados de registros de armas de fogo no território brasileiro. O Exército gestiona o Sistema de Gerenciamento Militar de Armas de Fogo (Sigma), que agrupa os registros das Forças Armadas, de policiais militares estaduais, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
O mesmo sistema regula as armas utilizadas por atiradores desportivos, caçadores e colecionadores. Este último grupo engloba a parcela da população comum que adquire armas de fogo legalmente.
O banco de dados da Polícia Federal e o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), contém os registros de quase 2 milhões de armas que são utilizadas pelo órgão, e demais organizações abaixo:
- Polícias civis estaduais;
- Polícia Rodoviária Federal;
- Ministério Público;
- Poder Judiciário;
- Sociedade civil.
O registro do Exército indica 1.128.348 registros ativos de armas de fogo no mês de agosto. Deste número, 496.172 armas são de caçadores, colecionadores e atiradores por esporte. Segundo o Sinarm, em 2017 existiam 637.972 registros ativos. Em 2019, o número cresceu para 1.056.670, o que representa um aumento de 65,6%.
Número de armas circulando aumenta e apreensões diminuem
Em contraste com o aumento de registros de armas de fogo, as apreensões das mesmas apresentaram uma queda. Divulgados neste domingo (18) pelo 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, dados se apresentaram alarmantes.
A Polícia Rodoviária Federal conteve 1,9% menos armas em operações, e as polícias de estados apreenderam menos 0,3% em comparação de 2018 a 2019. O presidente da Organização Internacional Control Arms, Ivan Marques, afirmou que os dados indicam que a polícia tem menos interesse em fiscalizar o controle de armas de fogo.
Mercado ilegal de armas impulsiona mortes violentas
No ano passado, 105 mil armas foram apreendidas no Brasil, e ao menos 6.740 deste número foi para o mercado ilegal.
David Marques, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e doutor em sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), afirmou ao portal G1 que o número de armas de fogo no mercado ilegal pode ser maior.
O especialista ressaltou que o aumento nas mortes violentas pode se dar, por parte, pelo aumento das armas de fogo no mercado ilegal:
“Isso está bem comprovado na literatura científica, e isso está relacionado também a essa migração porque alguma dessas armas legais vão ter uma vida útil nas mãos da criminalidade, vão alimentar o mercado ilegal e vão ser usadas em crimes violentos […]”, complementou David.
Enquanto especialistas avaliam o cenário das armas de fogo no país e sua associação a crimes violentos, o portal G1 identificou o aumento de assassinatos no Brasil no primeiro semestre do ano.