De acordo com informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da Economia, uma mulher preta ganhou cerca de R$ 1.658,04 a menos do que um homem branco em 2019.
Mesmo com os dados da Rais sendo do ano passado, eles foram compartilhados apenas em 2020. A média do salário de um homem branco foi de R$ 3.567, enquanto uma mulher preta, foi R$ 1.909.
A diferença salarial entre os dois grupos nas extremidades da pirâmide social é histórica, em contrapartida, o abismo salarial que os separa diminuiu nos últimos anos, mas a um ritmo muito lento.
Economistas alertam que pauta ainda é pouco tratada
Em 2015, essa diferença foi de R$ 1.698,87. Ou seja, caiu apenas R$ 40,83 em cinco anos. Nesse ritmo, levaria mais de 200 anos para que mulheres brancas e pretas tivessem o mesmo salário médio.
Para a pesquisadora do Núcleo de Estudos Afro-americanos (Nepafro) e colunista do UOL, Gabriela Chaves, a diferença salarial entre mulheres pretas e brancas ainda não está bem resolvida.
Mário Rogério Silva, sociólogo do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), disse que as informações levantadas mostram que há adversidades de superação das desigualdades que persistem há anos.
“Se você olhar para trás, são décadas de desigualdades, que vão se replicando, vão se ampliando, e a gente não consegue de forma alguma superar”, afirmou Rogério Silva.
Negras são maioria em profissões menos valorizadas
As mulheres negras constituem a maioria das ocupações de menor valor. Segundo dados da Rais, esse diferencial salarial está em grande parte relacionado às ocupações das mulheres de pele escura.
A título de exemplo, no setor de telemarketing, 85,7% dos profissionais recebem no mínimo dois salários mínimos e 42,2% do total dos cargos são ocupados por mulheres pretas.
Como consequência dos meios utilizados pelas empresas para contratação, segundo o sociólogo, existe uma grande complicação na inserção de pessoas pretas no mercado de trabalho atual.
Esses dados sobre a participação no mercado trabalhista são para mulheres negras. De acordo com a nomenclatura oficialmente utilizada, pretos e pardos constituem tal população.
Política de contratações pode explicar desigualdade
Marcelo Neri, diretor do Centro de Política Social da Fundação Getulio Vargas, disse que economistas e acadêmicos costumam citar a diferença de escolaridade entre negros e brancos para explicar a enorme desigualdade de pagamentos.
No entanto, segundo ele, isso explica apenas uma pequena parte da diferença de renda. Neri disse que pesquisas recentes apontam que a cultura do mercado de trabalho tem um impacto maior na disparidade salarial.
Ou seja, algumas empresas valorizam e adotam práticas de contratação que priorizam a diversidade, enquanto outras não. Ele chamou isso de efeito firma.